Após uma proibição inesperada, os eventos culturais ressurgem no Eixão em Brasília. O Governo do Distrito Federal (GDF), uma semana após ordenar a remoção de todos os eventos culturais e vendedores ambulantes do espaço conhecido como Eixão do Lazer, testemunhou o retorno de eventos populares como Choro no Eixo, Jazz no Eixo e Rock no Eixo. Estes eventos, de aos domingos, realizam-se ao longo da rodovia que se estende através da capital do país.
No último final de semana, o governo local proibiu repentinamente a realização de eventos musicais e comerciais no local, causando indignação na comunidade cultural de Brasília. Márcio Marinho, fundador do Choro no Eixo e músico bem conhecido, argumentou que o retorno dos eventos ao Eixão neste domingo representa uma adoção mais ampla da sociedade para o espaço. Ele declara que a população pegou o Eixão para si, como sempre foi., evidenciando a luta dos cidadãos pelo acesso à cidade.
O episódio de proibição reabriu a discussão saudável e necessária sobre a utilidade dos espaços públicos urbanos e as tensões inerentes à sua ocupação. Da mesma forma que ocorre em situações como a do Cais José Estelita em Recife (PE) e da Orla do Guaíba em Porto Alegre (RS), variados grupos sociais buscam afirmar o uso específico de espaços urbanos. Esse debate complexo moderno remete ao eterno debate sobre a convivência de grupos distintos na humana esfera pública.
Maria Fernanda Derntl, professora de arquitetura e urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em planejamento urbano, acredita que essa é uma chance vital para a capital exercer a convivência entre os diferentes grupos. O espaço público pode ser ocupado transitoriamente, desde que não se incorra em crime ou em destruição de propriedade., ela defendeu, abrindo uma visão mais democrática da questão. O Eixão, um termo local para a rodovia que atravessa o Plano Piloto, o coração da capital, é fechado aos carros aos domingos e feriados públicos, acolhendo a população local que costuma se envolver em atividades físicas e culturais no Eixão do Lazer.
O espaço continua a exercer sua função de facilitar eventos culturais desde a pandemia, com vendedores ambulantes oferecendo uma variedade de produtos, de alimentos e bebidas a artesanato. Márcio Marinho defende o Eixão como um pilar crucial da cultura, gastronomia, esporte e turismo de Brasília. Outros grupos como os políticos, movimentos sociais, e alguém como Auricélia Rocha que depende do Eixão como sua fonte de renda com a venda popular de almoços aos domingos, também apoiam fortemente o uso do espaço para a cultura e o comércio ambulante.
Mesmo com o debate aceso, o Governo do Distrito Federal assegurou que os eventos culturais não serão proibidos. O governador Ibaneis Rocha propôs a implementação de uma gestão e organização mais eficiente do comércio no Eixão. Em breve, um novo decreto para a regulamentação do uso do Eixão será lançado, com 30 dias concedidos ao Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF) para desenvolver um plano de uso. Apesar de temporariamente adiar vendas de álcool, os desafios que enfrentam o Eixão são o reflexo nítido de um cenário global mais amplo que debate avidamente o uso dos espaços públicos e seus direitos associados.