Jovens brasileiros da geração Z (nascidos entre 1997 e 2010) estão de olho nas áreas da tecnologia, mas também em setores mais tradicionais como publicidade, administração e psicologia. Para o mercado de trabalho, eles buscam empresas com valores similares aos deles, almejam cargos de liderança e não descartam o empreendedorismo como uma possibilidade de carreira.
Isso é o que mostra a pesquisa “GenZ além dos rótulos”, publicada pelo Instituto da Oportunidade Social (IOS). A organização entrevistou 929 jovens de 15 a 29 anos de quatro estados diferentes (São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Minas Gerais), todos alunos ou ex-alunos dos cursos oferecidos por eles.
De acordo com o levantamento, 64% dos jovens desejam ser líderes nas áreas em que estudaram e 40% querem empreender. 69% dos jovens entrevistados ainda não concluíram o ensino médio, e 88% desta parcela gostariam de continuar os estudos após o término do terceiro ano.
A área de tecnologia aparece em maior destaque na nuvem de palavras de profissões da pesquisa. Dentro desse universo, engloba-se também o desenvolvimento de games e o web design. Marketing e publicidade vem em seguida, junto com administração e recursos humanos.
Alecsandra Neri, gerente de operações do IOS, destaca que, diferentemente das gerações anteriores, a preferência por TI não é uma exclusividade masculina. Pelo contrário, 55% dos alunos dos cursos de tecnologia oferecidos pelo instituto são meninas.
“Os gen Z querem trabalhar em locais e setores que valorizem a diversidade e equidade, o que contribui para um desejo crescente dessas jovens a promoverem a mudança. Cada vez mais vemos meninas que querem ajudar outras a ingressar em TI, construir mais referenciais femininos no segmento e se desenvolver”, disse.
A estudante Catiuscia Centeno, 19, é um exemplo dessa tendência. Ela faz faculdade de sistemas para a internet no IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul).
Ela contou à CNN que durante a adolescência chegou a fazer cursinhos de design gráfico, mas que foi no IOS que ela passou a enxergar a tecnologia como uma possibilidade de carreira.
“Minha jornada com a tecnologia começou quando tinha 17 anos, então não faz muito tempo. Entrei em um curso de programação web, onde tive meu primeiro contato com programação. A tecnologia, que era algo que normalmente usava como hobby, acabou se tornando a área em que quero trabalhar”, afirma Catiuscia.
Além da profissão, Catiuscia afirmou que o curso também a ajudou a desenvolver um sentimento de querer ajudar a sociedade de alguma forma:
“Gosto de programar e posso usar o meu conhecimento para ajudar outras pessoas. O código que estou fazendo hoje pode ajudar 10 mil pessoas amanhã. É isso que me impacta quando falam em tecnologia para mim”
Catiuscia Centeno, estudante de Sistemas para Internet
Essa questão do impacto social está bem presente na resposta dos entrevistados. A pesquisa destacou que a maior preferência entre os jovens diz respeito justamente aos valores da empresa onde desejam trabalhar. 76% deles consideram muito importante que a companhia tenha como prática o respeito, a ética, a sustentabilidade e a transparência.
“Esses jovens querem ingressar em grandes empresas que possuam políticas de inclusão, diversidade, flexibilidade, benefícios e equipamentos modernos. O estudo traz esse cenário e aponta que, mesmo com um interesse pelo empreendedorismo, as oportunidades de trabalho formal com bons salários e possibilidade de crescimento são muito importantes”, completa Alecsandra.
Estudantes querem empreender
De acordo com a IOS, 40% desejam ter uma empresa própria um dia. Essa parcela vê o empreendedorismo como uma possibilidade de autonomia e de trabalhar com familiares e amigos.
A questão da amizade também está presente no perfil de líder que os jovens veem como inspirador para eles. 71% admiram um líder amigo, que converse sobre tudo, não somente sobre trabalho. Apenas 7% veem a liderança rígida, que exerce autoridade e não trata sobre outros assuntos, como um modelo a ser admirado.
Formas de trabalho
Alecsandra acrescenta que embora o empreendedorismo seja uma tendência, ele também é um reflexo da dificuldade que muitos jovens enfrentam para entrar no mercado formal.
“Os jovens dão preferência a oportunidades de trabalho formais, e em modelos como CLT (51%), que ofereçam perspectivas de crescimento (67%) e segurança financeira, especialmente para o jovem periférico vindo de escola pública”
Alecsandra Neri, gerente de operações do Instituto da Oportunidade Social (IOS)
Os jovens também responderam sobre a flexibilidade de locais e horários de trabalhos, dois temas que estão bem presentes nos últimos anos. Entre o formato de trabalho sugerido, o que os entrevistados priorizam mais é o “anywhere office”, que permite que o profissional trabalhe de onde quiser.
38% considerou esse formato como muito importante, contra a taxa de 17% que prefere o home office total e 13% que escolhe o presencial total. O instituto identificou que mais da metade dos respondentes não se importa com vagas que sejam apenas home office ou apenas presencial.
47% dos jovens consideram muito importante ter bem definidos os horários de entrada e saída do trabalho. A pesquisa destacou que, como 69% dos entrevistados ainda não terminaram o ensino médio, a flexibilidade de horários e vagas em meio período (como prevista na Lei do Jovem Aprendiz) são importantes para a conclusão dessa etapa da educação.
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