Um grupo de 100 mães que sofreram a trágica perda de seus filhos em operações policiais tornaram-se bolsistas num inspirador projeto da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Reunindo-se para o primeiro encontro na sexta-feira (6), estas mães darão o primeiro passo em um ano de pesquisa intensiva e discussões profundas, fomentadas pelo Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
Articulado pela Rede de Atenção a Pessoas Afetadas pela Violência de Estado (Raave) e UFRJ, o principal objetivo do projeto é chegar ao fim do ano com propostas sólidas para políticas públicas, concentrando-se em garantir os direitos dos que foram vitimados pela violência do Estado. Originado de atividades desenvolvidas pelo Raave – uma organização formada por instituições defensoras de direitos humanos, movimentos de mães e familiares das vítimas, e grupos clínicos de atenção psicossocial – este projeto é uma extensão direta do trabalho já realizado pela comunidade.
O pagamento das 100 bolsas será realizado ao longo de 12 meses pela UFRJ, com as mães participantes requeridas a se envolver e aderir às diretrizes do Raave. Uma consideração importante é a segurança das participantes, muitas das quais vivem em áreas com alta incidência de atividade criminal e operações policiais regulares. A consciência dessa situação precária levou à instrução de que nenhuma participante deve se expor a situações de risco.
O apoio a esse projeto não se limita à UFRJ e Raave. Estudantes, pesquisadores e professores de instituições como a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) também estão envolvidos, oferecendo suporte e orientação. Para maior eficácia, as mães foram divididas em 11 grupos de acordo com onde moram, com dois estudantes acompanhando os trabalhos de cada grupo.
Segundo dados divulgados pela Raave, a maioria das inscritas são moradoras de favelas que ganham menos de um salário mínimo. Esse projeto não só alivia suas lutas financeiras, mas também encoraja seu envolvimento em questões de direitos humanos e luta contra a negligência do poder público.
Dentro de seus próprios núcleos familiares, o filho vítima de assassinato costuma ser uma fonte de suporte financeiro, tornando sua perda uma tragédia dupla. Além da dor insuportável da perda, a família é empobrecida financeiramente. A inexistência de uma política pública psicossocial para apoiar essas mães cria uma situação de adoecimento, tornando o retorno ao mercado de trabalho ainda mais desafiador.
Como tal, este projeto serve não apenas como uma plataforma para criação de políticas públicas e acolhimento de futuras famílias vítimas da violência do Estado, mas também como um componente crucial para a produção de conhecimento centrado na luta por direitos. Espera-se que a experiência e as vivências dessas mães contribuam para a evolução das pesquisas e para a identificação de barreiras no acesso aos direitos. Petição de justiça, força coletiva, apoio mútuo na luta contra a violência de Estado – são esses os princípios subjacentes a este ambicioso e tocar projeto.