Em um desenvolvimento chave na investigação que envolve infecções por HIV em transplantes de órgãos realizados na rede de saúde do estado do Rio de Janeiro, a Justiça concedeu autorização para quebrar o sigilo de dados eletrônicos e de mensagens dos envolvidos no caso. O laboratório PCS Lab Saleme e seus sócios e funcionários são os principais investigados.
A autorização para acessar os dados dos envolvidos foi concedida no domingo (13), durante o Plantão Judiciário. Sete pessoas, incluindo os proprietários e funcionários do PCS Lab Saleme, estão atualmente sob investigação. O laboratório é acusado de emitir laudos afirmando que dois doadores de órgãos não tinham HIV, quando na realidade, testaram positivo para o vírus. Seis das pessoas que receberam órgãos desses doadores foram infectadas com o vírus.
A juíza Flavia Fernandes de Melo deu permissão para acessar dados a partir dos dispositivos eletrônicos apreendidos, incluindo mensagens, e-mails, registros de conversas em aplicativos de bate-papo, agendas, registros de chamadas, entre outros. A busca e apreensão foi estendida a Walter Vieira, Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, Marcia Nenes Vieira e Eliane Nunes Vieira, que são sócios-proprietários do laboratório, bem como aos funcionários do PCS Lab Saleme, Jacqueline Iris Barcellar de Assis, Cleber de Oliveira Santos e Ivanildo Fernandes dos Santos.
Nesta segunda-feira (14), a Polícia Civil executou 11 mandados de busca e apreensão e dois de prisão, incluindo um contra Walter Vieira, um dos sócios do laboratório e um técnico. Outros dois alvos de mandado de prisão ainda estão foragidos.
De acordo com investigações, o laboratório foi negligente na verificação da validade dos reagentes, que são produtos químicos que reagem com o sangue contaminado para indicar a presença do vírus HIV. Se expirados, esses reagentes podem ser ineficazes na detecção do HIV, levando potencialmente a testes falsamente negativos. Segundo o delegado responsável, André Neves, a motivação por trás dessa prática era cortar custos e maximizar o lucro do laboratório.
Até agora, o laboratório PCS Lab Saleme apontou para falhas humanas na transcrição dos resultados dos dois testes de HIV como o motivo dos resultados incorretos. Entretanto, a investigação ainda está em andamento e todas as possibilidades estão sendo consideradas. A Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro permanece vigilante, e todas as atividades de transplante estão sob escrutínio rigoroso para evitar erros semelhantes no futuro.