David dos Santos Araújo, mais conhecido como Capitão Lisboa e acusado como um dos mais violentos torturadores durante o regime militar brasileiro, faleceu sem ser responsabilizado por seus atos. Delegado aposentado da Polícia Civil de São Paulo, ele morreu duas semanas após a retomada da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) que foi promovida pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Durante a ditadura, Araújo era hierarquicamente subordinado ao major das Forças Armadas, Carlos Alberto Brilhante Ustra, único militar condenado pela Justiça até o momento pela prática de tortura durante o regime militar. Ambos atuaram no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operação de Defesa Interna (Doi-Codi) em São Paulo, célebre por suas práticas clandestinas de torturas.
Acusado pela execução e desaparecimento forçado de Alencar de Seixas e Aylton Adalberto Mortati, também foi citado por torturar Ivan Seixas, filho de Alencar, com apenas 16 anos na época, e mais três membros da família do militante. Embora as acusações fossem graves, o Capitão Lisboa sempre as negou, incluindo em seu depoimento à Comissão Nacional da Verdade em 2013.
A despeito de suas ações, em 1981, ele recebeu a Medalha do Pacificador do Exército. E em 2012, com uma empreitada no ramo de segurança privada, viu a sede de sua empresa em São Paulo se tornar palco de protestos do Levante Popular da Juventude.
A CEMDP teve seus trabalhos interrompidos em 2022, mas retomou suas atividades no final de agosto devido aos esforços do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e do Governo Federal. Desde sua instauração em 1995, a comissão analisou cerca de 300 casos de abusos e violências durante o período militar, reconhecendo mortes e promovendo o pagamento de indenizações às famílias das vítimas..