Explosão nas Apostas Online: Uma Pandemia Paralela

Numa velocidade que ultrapassa o contágio do COVID-19 no Brasil, as apostas online tornaram-se uma pandemia paralela, atraindo milhões de novos jogadores. Uma pesquisa do Instituto Locomotiva revelou que apenas nos primeiros sete meses de 2024, 25 milhões de pessoas passaram a fazer apostas esportivas em plataformas eletrônicas, uma média de 3,5 milhões por mês. O avanço foi mais rápido do que o próprio coronavírus, que demorou 11 meses para contagiar o mesmo número de pessoas no Brasil – entre 26 de fevereiro de 2020 a 28 de janeiro de 2021.

Ao longo de cinco anos, o número de brasileiros que se arriscaram nas chamadas bets chegou a 52 milhões. Quase metade deles são novos jogadores que apostaram nos primeiros sete meses de 2024. O perfil dos apostadores é diversificado: 53% são homens, enquanto 47% são mulheres. A faixa etária está equilibrada entre jovens de 18 a 29 anos (40%), adultos de 30 a 49 anos (41%) e aqueles com 50 anos ou mais (19%). A maioria é de classes econômicas mais baixas, com oito em cada dez pessoas das classes CD e E apostando regularmente, pelo menos uma vez ao mês.

A facilidade de apostar, com a disponibilidade dos celulares e o apelo publicitário, são os principais atrativos das plataformas. No entanto, a pesquisa identificou um lado sombrio: 86% dos apostadores têm dívidas e 64% estão negativados na Serasa. Desses, 31% estão endividados e inadimplentes. Para Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, “Quando uma pessoa endividada opta por apostar, muitas vezes na perspectiva de sair do endividamento, nós temos alguma coisa errada nisso”.

É nesse contexto de dívidas e dificuldades financeiras que ganhar dinheiro se tornou a principal razão para fazer apostas esportivas online. Esta opção foi escolhida por 53% dos entrevistados, como contraponto ao entretenimento (22%), adrenalina (10%), passar o tempo (7%), curiosidade (6%) e aliviar o estresse (2%).

Além das ramificações financeiras, as apostas online também têm impacto sobre a saúde mental. Três quartos dos entrevistados conhecem pessoas viciadas em apostas esportivas, e muitos acreditam que apostar aumenta a ansiedade (51%), provoca mudanças de humor (27%) e gera estresse (26%) e culpa (23%). Seis em cada dez apostadores online admitiram que esta prática afeta o seu estado emocional, causando sentimentos de ansiedade (41%), estresse (17%) e culpa (9%).

Apesar dos riscos, 42% dos entrevistados acreditam que as apostas esportivas online são uma fuga de problemas ou emoções negativas. A pesquisa ouviu 2.060 pessoas de 142 cidades em todo o país, com uma margem de erro de 2,1 pontos percentuais. Desde a sanção da Lei 14.790/2023, que regulamentou as apostas no Brasil, o Ministério da Fazenda tem recebido uma enxurrada de pedidos de regulamentação das plataformas de aposta online. A explosão das apostas sugere, no entanto, que é preciso mais do que regulamentação para lidar com esta nova pandemia.

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