A recente passagem do poeta Antônio Cícero reacendeu o debate acerca da eutanásia e do suicídio assistido no Brasil, assuntos ainda dominados por dogmas religiosos e resistência legislativa, conforme dizem especialistas. Cícero, venerável imortal da Academia Brasileira de Letras, escolheu encerrar sua vida na Suíça, onde o suicídio assistido é legalizado, acentuando o drama de brasileiros que lutam contra barreiras legais e financeiras para acessar um final digno.
Dentre estes brasileiros, encontramos a estudante de veterinária Carolina Arruda, que luta contra a neuralgia do trigêmeo desde os 16 anos, doença que provoca dores intensas e insuportáveis. Carolina deseja praticar o suicídio assistido na Suíça, mas estimativas apontam que o processo custaria cerca de R$ 200 mil, valor inatingível para muitos brasileiros.
A situação de Carolina coloca em destaque o aspecto elitista do suicídio assistido atualmente, onde apenas aqueles com privilégios financeiros podem buscar um final digno no exterior, enquanto grande parte da população brasileira é deixada para enfrentar condições insuportáveis sem qualquer tipo de auxílio legal.
Bioeticistas brasileiros, como o professor Volnei Garrafa, apontam que essa resistência em discutir temas morais é prejudicial para os mais pobres, que são privados de uma morte digna devido à falta de suporte do Estado. Eles observam que práticas proibidas no Brasil, como a eutanásia e o suicídio assistido, são legalizadas e cuidadosamente implementadas em países europeus, como Holanda, Bélgica e Suíça.
Esses especialistas argumentam que é crucial que o Brasil comece a discutir seriamente essa questão moralmente complexa e emocionalmente delicada, à medida em que o número de idosos cresce e a tecnologia avança, tornando possível manter pessoas vivas em situações de saúde irreversíveis.
Observando a história de Antônio Cícero, eles acreditam que é possível e necessário encarar a realidade do suicídio assistido e trabalhar por reformas legislativas que possibilitem uma morte digna para todos, não apenas os ricos. Isso implicaria em não apenas flexibilizar as leis em relação à eutanásia e ao suicídio assistido, mas também reestruturar o Sistema Único de Saúde (SUS) para oferecer os cuidados adequados e necessários.
A equidade na assistência, visando garantir a dignidade na morte, é um tema carece de amplas discussões e ações governamentais, acadêmicas e da sociedade. Ao olhar as realidades de Antônio Cícero e Carolina Arruda, fica claro que a questão da eutanásia e do suicídio assistido é mais do que um debate moral – é uma questão de direitos humanos básicos e dignidade na morte. A história desses indivíduos reafirma quão essencial é para o Brasil enfrentar essa discussão complexa e, por fim, confrontar sua postura atual em relação à eutanásia e ao suicídio assistido.