O Centro-Oeste brasileiro é um gigante agrícola. Na safra de 2019/2020, o Brasil alcançou uma produção de 323 milhões de toneladas de grãos, incremento de 18% em relação ao ciclo anterior. O efeito disso é tão amplo que o PIB agropecuário cresceu 15.1% – um desempenho muito superior ao dos setores de serviços e indústria, que registraram altas de 2,4% e 1,6% respectivamente.
Os principais personagens nesta história de sucesso são os estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A produção recorde de soja e milho depende muito desses estados. No entanto, o brilho do agronegócio contrasta com os sinais de desalento social em suas capitais, Goiânia, Campo Grande e Cuiabá.
Essas cidades, apesar de estarem em regiões de intensa atividade agropecuária, apresentam PIBs per capita abaixo do indicador nacional. Acentuando as preocupações, nenhuma dessas três capitais atingiu a universalização do esgotamento sanitário em pleno século 21. Além disso, não lideram os índices de escolarização e têm altas taxas de mortalidade infantil, indicativos que falham em refletir a prosperidade gerada pelo agronegócio.
Em Campo Grande, por exemplo, a 17ª cidade mais populosa do Brasil, cerca de 16,6% das casas não têm tratamento de esgoto. Em Cuiabá, a taxa de mortalidade infantil supera a de mais de 3380 outras cidades brasileiras e um quinto dos domicílios carece de esgotamento sanitário. Em Goiânia, uma em cada quatro residências não tem esgoto sanitário.
A disparidade entre prosperidade do agronegócio e as condições de vida social nessas cidades é, nas palavras de Jorge Abrahão, do Programa Cidades Sustentáveis, um reflexo de como as cidades desenvolveram-se rápida e significantemente por conta do agronegócio, mas então reproduziram o modelo de desigualdades que acontece no resto do país.
O Instituto Cidades Sustentáveis evidencia discrepâncias raciais e de gênero no trio de cidades. Em todas elas, os homens ganham mais que as mulheres. Nas três, a proporção de mulheres no comando de secretarias municipais é bastante baixa.
As disparidades sociais nas capitais do agronegócio do Centro-Oeste são indicativos da necessidade urgente de políticas públicas eficazes. Enquanto o agronegócio floresce, é essencial garantir que a população dessas cidades esteja equipada com as estruturas básicas necessárias para uma vida digna e que a desigualdade seja adequadamente abordada para promover um crescimento mais inclusivo e equitativo.