A realidade vivida por quem reside em cidades de fronteira, localizadas ao redor do Brasil e em limítrofes com países como Paraguai, Venezuela, Bolívia e Argentina, apresenta desafios e adversidades singulares. Entre os problemas enfrentados estão a elevada taxa de evasão escolar comparada à média nacional, a presença proeminente de organizações criminosas e uma economia desintegrada majoritariamente pelo contrabando.
Com a chegada do pleito municipal, onde prefeitos e vereadores serão escolhidos, a Agência Brasil buscou a opinião de especialistas para compreender melhor os desafios que os eleitores dessas regiões enfrentam. Os analistas destacam que a ausência de projetos concretos voltados para o crescimento econômico dos municípios de fronteira é um dos principais obstáculos para combater o contrabando e mitigar a influência do crime organizado.
Para Luciano Stremel Barros, presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), o atraso econômico nas regiões de fronteira acontece porque essas foram as últimas áreas do país a receber investimentos significativos. Ele argumenta que a carência de infraestrutura e de atividades econômicas impactantes resulta em dificuldades para estes municípios estabelecerem um vetor de desenvolvimento.
O Brasil abriga 588 municípios na faixa de fronteira, área que compreende 150 quilômetros a partir do limite com os dez países vizinhos. Esta região ocupa cerca de 16% do território nacional e concentra uma população de cerca de 11 milhões de habitantes.
Barros sugere que a gestão local das cidades fronteiriças, em colaboração com os governos federal e estadual, poderia apostar no desenvolvimento do turismo nessas áreas, explorando biomas que se estendem desde os Pampas gaúchos, passando pelo Pantanal, até a Amazônia.
Além dos desafios econômicos, a segurança também é um tema sensível nessas regiões. O Brasil tornou-se rota para o tráfico internacional de drogas, principalmente cocaína e maconha produzidas em países como Bolívia, Peru, Colômbia e Paraguai. Isso permitiu a consolidação de organizações criminosas em diversos municípios de fronteira.
Outro problema que impacta a vida na fronteira é a alta taxa de evasão escolar. Segundo Barros, a raiz do problema está na economia fragilizada dessas regiões. Para o professor Tomaz Espósito, coordenador do mestrado de fronteiras e direitos humanos da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), o contrabando é parte da cultura em cidades fronteiriças, muitas vezes não sendo visto como ilícito devido à falta de outras atividades econômicas.
Especialistas defendem que uma das condições para combater o crime organizado e o contrabando seria a elaboração de políticas públicas duradouras. No entanto, devido à grande quantidade de cargos comissionados em prefeituras de cidades fronteiriças, essas políticas muitas vezes não possuem continuidade, abrindo espaço para a infiltração do crime.
Em maio deste ano, o governo federal anunciou a Política Nacional de Fronteiras, voltada para a promoção da segurança, do desenvolvimento sustentável, da integração regional e proteção social nas fronteiras brasileiras. As expectativas são de que esta política ajude na integração da região fronteiriça com o restante do país, enfrentando os desafios impostos pela geografia e pela realidade econômica e social destes municípios.
Concluindo, enfrentar os desafios da economia fraca, do contrabando e do crime organizado nas cidades fronteiriças do Brasil requer uma combinação de investimento em infraestrutura, desenvolvimento sustentável, integração regional e políticas públicas bem definidas e duradouras.