Os cardeais que entrarão em um conclave nesta quarta-feira (7) para escolher um novo papa ainda não têm uma ideia clara de quem será o sucessor do papa Francisco, disseram vários deles, e os discursos de cada clérigo nas reuniões desta semana podem ser decisivos.
Os 133 cardeais estão realizando reuniões quase diárias para discutir as questões enfrentadas pela Igreja Católica de 1,4 bilhão de integrante antes do conclave, quando ficarão isolados na Casa Santa Marta e sem contato com o mundo exterior.
Embora alguns cardeais sejam vistos como favoritos para suceder o papa Francisco — dois deles são frequentemente mencionados, o cardeal italiano Pietro Parolin e o cardeal filipino Luis Antonio Tagle –, muitos dos clérigos que votarão ainda não se decidiram.
“Minha lista está mudando e acho que continuará a mudar nos próximos dias”, disse à Reuters o cardeal britânico Vincent Nichols, que participa de seu primeiro conclave. “É um processo que, para mim, está longe de ser concluído, muito longe de ser concluído.”
Como os cardeais estão se reunindo esta semana nas chamadas “congregações gerais”, eles podem fazer discursos para dar sua visão do futuro da fé global.
Durante o conclave de 2013, foi nesse período que o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio fez um discurso que, segundo muitos relatos, impressionou profundamente seus pares. Dias depois, ele foi eleito como o próximo pontífice, Francisco.
Nichols, a mais alta autoridade da Igreja na Inglaterra e no País de Gales, disse que os discursos desta vez têm sido novamente fundamentais para ajudar a formar opiniões sobre quem poderia ser o próximo papa.
“Haverá momentos em que, como se uma pedra fosse jogada em um lago, as ondas se espalharão e eu ficarei sentado pensando: ‘Ah, sim, isso é importante’”, disse o cardeal.
Perguntado se há cardeais que estão na frente e que têm mais chances de se tornar papa, Nichols respondeu: “Eu vim com algumas ideias… (e) elas mudaram”.
O cardeal William Goh Seng Chye, arcebispo de Cingapura, disse ao jornal Il Messaggero que também não sabia quem seria o próximo papa. “Pode parecer estranho, mas nós realmente não sabemos”, disse ele. “Ainda não começamos a votar, portanto não sabemos. O jogo ainda está em andamento.”
Comparando anotações no jantar
Os cardeais iriam se reunir para duas sessões pré-conclave nesta segunda-feira (5) e esperava-se que tivessem pelo menos mais uma nesta terça-feira (6).
O conclave propriamente dito começa na manhã desta quarta-feira com a celebração de uma missa especial na Basílica de São Pedro.
À tarde, os cardeais entrarão formalmente na Capela Sistina, o famoso espaço de culto do século 15 adornado com afrescos de Michelangelo, onde começarão a votar no próximo papa.
Espera-se que eles façam uma votação na tarde de quarta-feira. Nos dias seguintes, haverá duas votações pela manhã e duas pela tarde. É necessária uma maioria de dois terços para que alguém seja eleito.
De acordo com os regulamentos do conclave, se ninguém for escolhido após os três primeiros dias, os cardeais devem fazer uma “pausa de oração” de um dia antes de continuar.
O único sinal dado ao mundo exterior sobre as deliberações virá de uma chaminé instalada acima da capela. Os cardeais queimarão suas cédulas, adicionando um produto químico para criar uma das duas cores de fumaça: preta para uma votação inconclusiva; branca quando houver um novo papa.
O cardeal italiano Fernando Filoni, ex-funcionário do Vaticano que participa de seu segundo conclave, disse ao jornal Corriere della Sera que esperava que as primeiras votações fossem indefinidas.
“Os dois primeiros votos são para orientação, depois começamos a ajustar as coisas”, disse ele.
O fato de os cardeais ficarem isolados do mundo e comerem juntos na casa de hóspedes Santa Marta, no Vaticano, onde também dormirão, também é importante, afirmou Filoni.
“Quando votamos, não conversamos, mas depois comemos juntos, ficamos juntos e comparamos anotações”, compartilhou.