A Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee) destacou uma trilha sonora especialmente original na cerimônia do Prêmio Abradee 2024 em Brasília: a Sinfonia dos Distribuidores de Energia – uma valsa de sete minutos de duração. Mas, essa trilha não surgiu de um estúdio convencional. Em vez disso, ela se originou a partir de 12 fotografias de pássaros pousados em fios de postes de energia.
Esta inusitada sinfonia é a criação de Jarbas Agnelli, um músico, cineasta e publicitário, que interpretou os fios paralelos como pautas musicais, com as aves distribuídas ao longo deles como notas. Esta abordagem de inspirar música a partir da fotografia, embora não seja um experimento estético inédito, é certamente ainda incomum e extraordinária.
Agnelli melhorou e reproduziu a ideia que teve originalmente em 2009, ao extrair uma melodia de uma foto que viu no jornal O Estado de S. Paulo. A imagem, feita pelo fotógrafo Paulo Pinto, mostrava um grupo de pássaros pousados nos fios de uma rede elétrica. Para Agnelli, o alinhamento aleatório dos pássaros lembrou uma partitura musical, inspirando-o a criar uma melodia baseada nela.
Na transformação desta imagem em som, Agnelli tomou algumas liberdades artísticas, interpretando que as aves nos fios representavam as notas Fá, Lá, Dó, Mi e Sol. Além disso, também determinou a duração das notas a partir da posição dos pássaros nos fios.
Esta história dos pássaros compondo música provocou interesse nacional e internacionalmente, resultando em entrevistas de Agnelli à NPR dos Estados Unidos e à Companhia de Radiodifusão do Japão (NHK). O vídeo da execução da música também ganhou destaque nas redes sociais, sendo premiado como um dos 20 vídeos mais interessantes do YouTube naquele ano.
A fotografia musicalizada de Paulo Pinto e a melodia fotografada de Jarbas Agnelli exemplificam sinestesias. Na verdade, estas ‘obras’ são percepções simultâneas de sentidos diferentes – a imagem que sugere um som, ou um som que evoca uma imagem. Está claro que a conexão entre a visão de Agnelli de uma pauta musical e a sensibilidade fotográfica de Pinto criou uma colaboração bonita e memorável, evidenciando a beleza que pode surgir da interseção de diferentes formas de arte.