É preocupante constatar que o Brasil ainda enfrenta sérios desafios no que se refere ao adequado armazenamento de vacinas e imunobiológicos. Segundo Eder Gatti, diretor do Programa Nacional de Imunizações (PNI), são nada menos que 17 mil geladeiras domésticas improvisadas como depósito de doses imunizantes.
Estes equipamentos, além de não passarem pela devida avaliação e aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apresentam instabilidade de temperatura interna, podendo comprometer severamente a eficácia dos imunizantes. Este cenário revela uma realidade assustadora, que começa a explicar porque muitas vezes os esforços para controle de doenças infecciosas não alcançam o resultado esperado.
Não resta dúvida que todo processo de imunização se apoia fortemente em uma cadeia de suprimentos eficiente e estruturada com equipamentos adequados para o armazenamento das vacinas – o que inclui câmaras frias. Estas são equipadas com sistema de controle e monitoramento de temperatura, fundamentais para garantir que os imunizantes sejam devidamente preservados e mantenham sua eficácia até que cheguem ao cidadão.
Infelizmente, a realidade brasileira ainda é distante da ideal. Num país de dimensões continentais e com enorme diversidade regional, muitos municípios ainda lutam contra desafios como a instabilidade energética. Nessas áreas, a disponibilidade de câmaras frias se faz ainda mais essencial, visto que equipamentos mais modernos possuem baterias que possibilitam a manutenção da temperatura mesmo em casos de interrupção do fornecimento de eletricidade.
O Ministério da Saúde está ciente desses desafios e já iniciou os trabalhos para melhorar o cenário. Em 2023, a pasta realizou um levantamento da situação da rede de frio em todo país, identificando a necessidade urgente de investimentos. O primeiro passo identificado envolve a regulamentação. Com isso em vista, o Ministério lançou uma consulta pública para padronizar as centrais da rede de frio no Brasil, propondo cinco modelos de planta que variam conforme a população local e a demanda de armazenamento de vacinas.
Essa movimentação é um indício de progresso, mas o caminho para a garantia de armazenamento adequado de vacinas no Brasil ainda é longo e exige a colaboração de todos os cidadãos e agentes envolvidos na saúde pública nacional.