Embora as chances do conclave iniciado nesta quarta-feira (7) eleger um papa africano parecerem remotas à primeira vista, há uma expectativa dos devotos da África que um deles se torne o primeiro papa negro da história moderna e dê continuidade ao legado de Francisco de defender o mundo em desenvolvimento.
Um continente onde a religião permeia a maioria dos aspectos da vida privada e pública, a África é onde a Igreja Católica Romana cresce mais rapidamente, de acordo com dados do Vaticano publicados em março deste ano.
Durante as homenagens a Francisco após sua morte, fiéis chegaram a afirmar que um papa negro já deveria ter sido eleito há muito tempo.
O cardeal brasileiro Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, também disse que “ninguém deveria se surpreender caso fosse escolhido um cardeal africano ou asiático para ser papa”.
Alguns nomes de candidatos africanos têm circulado, mas há dúvidas sobre se algum deles tenha chances reais de se tornar papa, em parte porque nenhum deles foi submetido ao mesmo nível de escrutínio público que a maioria dos cardeais ocidentais. De qualquer forma, prever quem se tornará papa é notoriamente complicado.
Potenciais papas africanos
Entre os clérigos africanos apontados como potenciais papas estão o cardeal Robert Sarah, da Guiné, de 79 anos; o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, de Gana, de 76 anos; o cardeal Fridolin Ambongo Besungu, da República Democrática do Congo, de 65 anos, arcebispo de Kinshasa; e o cardeal Ignace Bessi Dogbo, da Costa do Marfim, de 63 anos.
Robert Sarah
Sarah surge como um dos nomes cotados para suceder o papa Francisco após seu falecimento. Originário da Guiné, Sarah representa uma possível mudança histórica para a Igreja Católica, sendo um candidato negro e africano ao papado.
O cardeal já ocupou cargos de destaque no Vaticano, incluindo a posição de número 4 na hierarquia durante o pontificado de Francisco.
Sua experiência e background intelectual, com sete livros publicados, são vistos como pontos fortes em sua candidatura.
O cardeal guineense defende posições tradicionais dentro da Igreja, chegando a apoiar práticas como missas em latim e padres de costas para os fiéis durante celebrações.
Sua visão conservadora contrasta com algumas das iniciativas mais progressistas do papa Francisco, especialmente em temas como imigração e a bênção a casais do mesmo sexo.
Apesar de sua proeminência, a idade avançada de Sarah é vista como um possível obstáculo. Aos 79 anos, há preocupações sobre a duração de um eventual pontificado e sua capacidade de liderar a Igreja a longo prazo.
Além disso, a resistência da ala progressista da Igreja, fortalecida pelas nomeações do Papa Francisco, pode representar um desafio significativo à eleição de um líder com perfil mais conservador como Sarah.
Peter Turkson
Com 76 anos, Turkson é reconhecido internacionalmente como um formador de opinião e destaca-se por sua postura moderada e habilidade em seis idiomas.
Atual chanceler das Pontifícias Academias de Ciências e de Ciências Sociais, cargo designado pelo papa Francisco, Turkson ganhou projeção internacional após sua participação no Fórum Econômico Mundial de Davos, onde discutiu a necessidade de uma autoridade monetária internacional.
Filho de uma família com dez irmãos, Turkson é conhecido por sua dedicação aos estudos bíblicos, sendo considerado um “biblista” no Vaticano. Sua habilidade linguística impressiona: além de falar seis idiomas, ele compreende outros dois.
Durante o conclave de 2013, Turkson foi apontado por analistas como um forte candidato, chegando próximo de se tornar o primeiro papa negro da história moderna. Além disso, a sua visão sobre a relação entre fé e ciência é reconhecida, como demonstrado em uma de suas falas: “Um crescimento verdadeiro da pessoa humana requer ciência e fé”.
Apesar de sua proeminência, Turkson enfrenta desafios em sua potencial candidatura ao papado. Sua idade avançada, por exemplo, é vista como um fator que poderia resultar em um pontificado relativamente curto.
Além disso, sua posição moderada gera resistência tanto de liberais quanto de conservadores dentro da Igreja.
O perfil desejado para o próximo papa, segundo discussões entre os cardeais, é de alguém capaz de construir pontes, preocupado com as guerras mundiais e com uma abordagem mais pastoral. Essas características podem influenciar as chances de Turkson e outros candidatos no conclave.
Ambongo Besungu
Ambongo, da República Democrática do Congo, é uma voz proeminente que defende a paz em uma nação devastada por guerras e insurgências. Ele foi nomeado cardeal por Francisco em 2019, e nomeado novamente pelo pontifíce, em 2020 – desta vez para o Conselho de Cardeais, um gabinete de conselheiros papais que Francisco reúne regularmente.
No entanto, Ambongo se opôs à aprovação de Francisco em 2023 de bênçãos para casais gays, alegando que isso exporia a Igreja a escândalos.
Ignace Dogbo
Dogbo, arcebispo de Abidjan, da Costa do Marfim, foi nomeado cardeal em dezembro de 2024 e, como resultado, sua visibilidade aumentou.
“Ter cardeais de todas as partes do mundo realmente traduz a universalidade da Igreja”, disse ele à Reuters na época.
Apesar da projeção vivenciada pelo religioso, é improvável que ele seja eleito no conclave iniciado nesta quarta-feira.
Com informações da Reuters.