A Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos do Ministério dos Direitos Humanos anunciou, nesta quarta-feira (16), a identificação de dois presos políticos durante o período do regime ditatorial no Brasil.
Os restos mortais de Grenaldo de Jesus da Silva e Denis Casemiro foram localizados na cidade de São Paulo, na Vala Clandestina de Perus.
“Os dois tinham um sonho. Um sonho de maior igualdade, de maior justiça social, de que as pessoas pobres fossem bem tratadas, fossem mais felizes. Um nome de um era Grenaldo e ele foi marinheiro. Aos 20 anos ele entrou para a Marinha e, junto com mais 1.500 companheiros, lutou contra o golpe militar de 1964. Ele foi expulso da Marinha por isso, no primeiro mês na sequência do golpe de 1964. Ele não só foi expulso da Marinha, mas ele também foi julgado e condenado à prisão”, disse a procuradora regional da República e presidente da Comissão, Eugênia Augusta Gonzaga.
O anúncio foi feito durante coletiva de imprensa na Unifesp. A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo também estava presente.
“No mesmo período também havia o jovem Denis Casemiro, que veio para São Paulo. Era pedreiro, trabalhador rural, virou operário, veio para São Paulo e começou também a lutar contra aquele governo ditatorial. O resto da história vocês também conhecem. Preso, torturado por mais de um mês e, finalmente, executado, enterrado com dados diferentes para dificultar a localização. Os dois foram enterrados no fatídico cemitério de Perus”, continuou Eugênia.
Em sua fala, a ministra reafirmou o compromisso da pasta com a “retomada, a reinstalação da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos”.
“À medida que vamos dando as mãos, a gente consegue romper uma barreira, que é uma barreira histórica e que está na cultura da sociedade brasileira. Que é a cultura autoritária, que é a cultura de olhar para os cidadãos e cidadãs brasileiras negando a sua cidadania, negando a sua história e negando os seus direitos,” completou.
Vala de Perus
Durante o período da ditadura militar no Brasil, 1049 corpos de pessoas desconhecidas foram enterrados de forma ilegal no Cemitério Dom Bosco, em Perus, na zona norte de São Paulo.
A vala foi descoberta em 1990 pelo jornalista Caco Barcellos com ajuda do administrador de cemitérios Antônio Pires Eustáquio. Durante perícia, foram identificados restos mortais de cinco militantes, vítimas de desaparecimento forçado durante a ditadura militar.
No início deste ano, em março, o governo federal, por meio da ministra Macaé Evaristo, fez um pedido de desculpas formal às vítimas que foram enterradas no local.